No mato, onde não havia luz eléctrica, tínhamos alimentos frescos e água gelada, porque o colono, branco, fascista, português, vendia aos pretos geleiras a petróleo e ainda candeeiros petromax. Estes elementos nada tinham a ver com o colonialismo, mas com os negros no poder que retiraram e nunca mais repuseram…
Infelizmente, na maioria dos casos, vivemos pior hoje do que no ontem colonial, pelo carácter discriminatório de teimar, na recusa de se elaborar um projecto-país integrando os sentires e gemeres de todos os nosso povos.
Nas muitas sanzalas e bualas do interior, não havia energia eléctrica, mas os habitantes tinham energia, iluminando as casas no período nocturno, com os famosos petromax (candeeiros com um reservatório de petróleo e uma camisinha que propagava a luz), bebiam água, otchissangua ou sumos gelados, tal como conservavam alimentos, carnes e peixe, frescos nos congeladores de geleiras movidas a petróleo.
Muitos autóctones tinham fiado no comércio colonial e contraiam empréstimos bancários, podendo pagar às prestações, face à estabilidade no emprego ou venda da sua produção. A agricultura familiar era incentivada e uma rede fluída de compra e distribuição dos produtos do campo, não permitia o apodrecimento destes, na fonte, porque as velhas carrinhas Bedford e outras rasgavam o país, na recolha, também, de produtos agro-pecuários indígenas.
Acabar com ganhos, na agricultura e indústria implantadas, sob a justificativa da criação de uma economia centralizada, de viés socialista para, alegadamente, atender à maioria pobre angolana, mas que, paradoxalmente, os próprios arautos e mentores, para além da retórica verbal, dela não tinham formação e prática, constituiu um dos maiores crimes praticados, pelo actual regime, contra o sistema produtivo herdado dos colonialistas portugueses.
E é ou pode ser considerado crime, sim, porque ao invés de potenciar e melhorar a vida da maioria, a piorou, beneficiando, apenas a pequena oligarquia do regime, que passou de proletária a proprietária voraz, suplantando em pouco tempo, o próprio colonialismo português.
E o crime torna contornos maiores, diabólicos, danosos e dolosos, quando se transformou, de forma institucional, as fábricas industriais em armazéns de revenda, destruir a indústria açucareira, por razões ideológicas, para importar açúcar de Cuba, inflacionado, mandando para o desemprego milhares de trabalhadores do Bengo a Benguela. Destruíram o que poderia ser um orgulho da nova indústria angolana, pela resistência de intrépidos trabalhadores da Baixa de Kassanji (um símbolo de resistência, contra a exploração colonial), destruindo a produção de algodão, que alimentava uma próspera indústria têxtil, obrigada a ceder lugar aos produtos importados e manufacturados da China.
Em 2019, o ministro da Agricultura e Florestas, António de Assis, procedeu no município do Mungo (Huambo), ao lançamento do Programa de Revitalização da Cultura do Café Arábica no sector familiar, com o objectivo de contribuir para as estratégias de combate à pobreza e, ao mesmo tempo, garantir a segurança e a qualidade alimentar. Os resultados devem ter correspondido ao esperado por João Lourenço que agora o reconduziu na pasta.
Decorrido na aldeia de Beteleme, a 157 quilómetros da cidade do Huambo, o acto, testemunhado pela então governadora do planalto central, Joana Lina, ficou marcado pela distribuição de 15 mil mudas de café arábica a 30 famílias camponesas desta localidade, que possui três mil moradores que têm a agricultura como fonte de sustento. Quanto não vale o simbolismo.
O programa iria beneficiar, numa primeira fase, os municípios do Bailundo, Chicala-Cholohanga, Londuimbali, Huambo e Mungo, com a selecção de 30 famílias camponesas de cada uma das localidades, num total de 150, com vista a evitar a monocultura e a criar sustentabilidade dos sistemas de produção no país.
Na época colonial, estes municípios eram capazes de produzir 1.600 toneladas de café comercial, cultivadas numa extensão de cinco mil hectares de terras. Desde então, sob a égide sempre do mesmo partido, o MPLA, e ao fim de 47 anos de governação e, sobretudo, de 20 anos de paz total, ainda continuamos a não fazer o que os colonos portugueses faziam antes da independência.
Na ocasião, o ministro da Agricultura e Florestas, António de Assis, disse tratar-se de um projecto de “extrema importância”, sobretudo quanto ao aumento do rendimento económico-financeiro das famílias, daí a razão de os camponeses cuidarem bem das plantas, para que elas possam dar os frutos desejados.
Um excelente conselho de alguém que, por ser Licenciado em Ciência Agrárias, pelo Instituto Superior de Ciências Agrárias de Havana, na especialidade de produção vegetal, em 1981; ter o curso sobre o cultivo e mecanização da cultura de cana-de-açúcar tirado nos EUA em 1985 e também o curso de Análise e Gestão de Projectos Agro-industriais, concluído em 1983 no CIFAG (Portugal), deve saber bem o que diz e, se o deixarem, o que faz ou poderá fazer.
“A partir deste momento, as famílias que beneficiaram de uma muda de café devem ter em conta que receberam mais um filho. Então, precisam de saber se esse filho precisa de alguma coisa ou de correcção para crescer de forma saudável e a família sentir o orgulho de ter um membro capaz de resolver os seus problemas”, elucidou.
Deste modo, o governante pediu aos camponeses para estarem mais unidos e coesos, para fazer face aos desafios da diversificação económica e combate à pobreza, pois que o café é uma cultura de rendimento que, além de aumentar a possibilidade de as famílias ganharem mais dinheiro, pode potenciar o sector industrial.
Noutra parte da sua intervenção, o ministro da Agricultura e Florestas realçou que os técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) devem estar bem capacitados, para melhor contribuírem para a eficiência e eficácia do programa de desenvolvimento rural, numa altura em que o país se debate com a falta de fertilizantes.
António Francisco de Assis lembrou que Angola precisa, anualmente, em média, 170 mil toneladas de fertilizantes ou, no mínimo, 75 mil, para fazer face às necessidades do sector, daí a razão de estes profissionais serem mais patriotas, responsáveis, dedicados e rigorosos na gestão dos meios postos à disposição, para tornar a agricultura na base da economia nacional.
O ministro referiu que eles têm a missão de transmitir conhecimentos técnicos aos camponeses, a fim de aumentar a produção das principais culturas que concorrem para a redução da pobreza, sobretudo agora com a implementação do programa de revitalização do café.
Segundo dados do Instituto Nacional do Café (INCA), na campanha agrícola de 2019 serão disponibilizadas 80 mil mudas, sendo 15 mil da variedade “Acauã Novo” e 65 mil da espécie “Mundo Novo”.
No passado colonial, o café (como muitos outros produtos) ocupou um lugar de destaque na economia de Angola, tendo sido considerado o principal produto de exportação, atingindo elevadas quantidades e posicionando o país como o terceiro maior produtor a nível internacional, em 1974, e o primeiro de exportação em Angola, em 1975.
Actualmente, a produção é incipiente, dominada por empresas agrícolas familiares com plantações de baixa produtividade e dificuldades de acesso ao mercado. Trata-se de um café robusto, devido à existência de zonas do país com características propícias ao desenvolvimento desta espécie: Bengo, Cabinda, Cuanzas Sul e Norte, bem como o Uíge, enquanto o café arábica aparece em pequenas quantidades em Benguela, Bié e Huambo.
Propaganda não faz o café crescer
No dia 23 de Novembro de… 2015, o director do Instituto Nacional do Café defendeu – qual navegador que descobriu a pedra filosofal – a aposta de Angola no modelo agro-exportador, nomeadamente do café, que considerou ser o único nesse momento com hipótese de competir rapidamente no mercado internacional, tal como aconteceu no passado.
Na altura, o embaixador da missão permanente de observação da União Africana junto da ONU, o angolano Téte António, disse que “todos os dirigentes africanos estão cientes de que é preciso diversificar as economias”, explicando que o atraso se deve aos resquícios do colonialismo, pelo que “não podemos negar que o legado colonial ainda tem um grande peso nos nossos países”.
Estaria a referir-se ao que o colonizador fez em prol do café angolano e que, 47 anos depois, ainda está muitíssimo longe de ser atingido pelos peritos do MPLA, tipo Téte António?
O director do Instituto Nacional do Café, João Ferreira, falava à imprensa, à margem da reunião de peritos, que antecedeu a 11ª Assembleia-geral da Rede de Pesquisa de Café Africana, que decorreu em Luanda, envolvendo 500 especialistas de 25 países.
Segundo o responsável, numa altura que Angola realizava esforços para diversificar a sua economia, face à crise petrolífera, o Governo tem que pensar no modelo agro-exportador para ganhar “alguma divisa na produção agrícola”, sendo que no passado já foi um dos maiores produtores mundiais de café. Estávamos em 2015.
“Não me parece que as outras culturas consigam impor-se no mercado internacional, até porque a competitividade de países tem custos de produção muito mais inferiores”, disse João Ferreira.
O responsável referiu que Angola tinha então (2015) uma “fraquíssima” produção de café, de cerca de 12 mil toneladas por hectare, e registava igualmente níveis baixos de industrialização.
De acordo com o responsável, um dos desafios era munir o continente africano de tecnologia de ponta, para se passar da “cultura do café intensiva em mão-de-obra para uma cultura intensiva em capitais”. Será na defesa desta tese que hoje se incentiva a produção familiar?
“África precisa mecanizar a cultura do café, é preciso utilizar alguns agro-químicos, é preciso revermos o nosso sector do café, para torná-lo mais competitivo. O que estamos a discutir do ponto de vista da investigação é um pouco isto: que projectos fazer, que tipo de tecnologias abordar, que tipos de laboratórios termos, se vamos para o tipo de reprodução do café, por sistema de produção generativa vegetativa, que tipos de variedades conservar”, explicou João Ferreira.
África representava em 2015 cerca de 5% da produção mundial de café, tendo uma baixa competitividade, fracas produções por hectare, que variavam entre as 300 e os 500 quilogramas por hectare, enquanto os outros países apresentam produções de cerca 3.000 quilogramas por hectare.
Enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Não tenhamos receio de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Só assim poderemos ensinar quem sabe menos.
Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.